É difícil negar que "oquarto paradigma"[1] chegou nos estudos relacionados a biodiversidade e conservação[2]. O uso intensivo de dados, reflexo do crescimento exponencial dos "DAKs" (digital accessible knowledge)[3], criou um novo cenário no processo de tomada de decisão e formulação de políticas públicas relacionadas à biodiversidade e conservação: um cenário onde volumes maciços de dados heterogêneos e distribuídos necessitam ser qualificados, harmonizados e integrados para serem utilizados nos processos de síntese e análise.
Este novo cenário demanda, juntamente com novas técnicas, ferramentas e infraestrutura, novas capacidades e competências em uma equipe multidisciplinar, capacitada a manipular e integrar dados "brutos" em diferentes formatos e plataformas, desenvolver ferramentas de análise e síntese, qualificar dados de diferentes domínios de conhecimento, e selecionar e aplicar técnicas adequadas para resolver diferentes problemas.
Como exemplo destas novas competências, podemos citaro "cientista de dados", profissional com um repertóriodiferenciado de habilidades e conhecimentos, e com familiaridade emfundamentos debig data, programação, bancos de dados, padrões de dados e metadados,business intelligence, matemática, estatística, comunicação e visualização de dados.
O que vemos como tendência em alguns países é a aglutinação destas equipes em setores ou departamentos de síntese e análise, sejam próximas aos tomadores de decisão, em instituições detentoras de dados, ou em instituições com profissionais com algumas das competências demandadas pela equipe.
Próximos de nós temos o exemplo da Colômbia, pioneiros na América do Sul sob vários aspectos de gestão de informação em biodiversidade, que criaram seuCentro de Analisisy Sintesisjunto a instituição responsável pela gestão da informação sobre biodiversidade no país, oInstituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt.
Na Alemanha temos oGerman Centre for Integrative Biodiversity Research(iDiv)comum de seus core groups, oBiodiversity Synthesis;e na França temos oCentrefor theSynthesis and Analysis of Biodiversity (CESAB).
Nos Estados Unidos temos o Biodiversity Synthesis Center, sediado no Field Museum; e oNational Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS), naUniversidade da Califórnia, entre outros.
Na Austrália temos o Australian Centre for Ecological Analysis and Synthesis(ACEAS), e na Noruega temos o Centre for Ecological and Evolutionary Synthesis (CEES).
Entretanto, é interessante perceber que, apesar de sermos um país megadiverso[4], ainda não estamos neste mapa. Porém, mesmo considerando minha parcialidade neste julgamento, considero que o Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora)atua, na prática, como um centro de síntese e análise quando realiza a avaliação de risco de extinção de espécies da flora brasileira, e produz os Planos de Ação para Conservação.
Os núcleos do CNCFlorasão formados por equipes multidisciplinares que compilam, tratam e analisam uma quantidade significativa de dados primários e secundários sobre as espécies-alvo dos recortes de análise, desenvolvendo ferramentas computacionais,produzindo e publicandoresultados de síntese e análise sobre estas espécies.
Contudo, em minha opinião, ainda carecemos de um centro nacional integrado de síntese e análise em biodiversidade, capaz de alavancar todo o potencial dos recentes esforços de digitalização de dados primários realizados peloSistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr), qualificando-os e integrando-os com outros recursos de informação, gerando conhecimento e informação qualificada e contextualizada para tomada de decisão.